sexta-feira, 23 de março de 2012

CHICO ANÍSIO - O PROFESSOR DO HUMOR E SUAS MULTIFACETAS

Chico Anysio é o nome artístico de Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho nascido em Maranguape, Ceará, 12 de abril de 1931. Chico foi um dos pouquíssimos artistas que além de humorista foi ator, escritor e pintor brasileiro além de notório por seus inúmeros quadros e programas humorísticos na Rede Globo, TV onde possuiu contrato até 2012. Ao lado de Chacrinha e Boni, Chico foi considerado um dos maiores nomes de todos os tempos na televisão brasileira e trabalhou ao lado e até mesmo dirigiu os maiores nomes do humor brasileiro seja do rádio ou na televisão, como: Paulo Gracindo, Grande Otelo, Costinha, Walter D'Ávila, Jô Soares, Renato Corte Real, Agildo Ribeiro, Ivon Curi, entre muitos outros brilhantes humoristas. O cearense de Maranguape morto às 14h52m desta sexta-feira, aos 80 anos, foi um iconoclasta. Sua postura crítica não conhecia limites. Seu humor espicaçou a ditadura militar e invadiu a democracia denunciando a corrupção. Na galeria de tipos cômicos criados por ele, é possível detectar vergonhas nacionais como o coronelismo, o populismo, o analfabetismo. Mas sua obra não se limita a temas “sérios”.
MULTIFACES- São muitas as maneiras possíveis para definir quem foi Chico Anysio. A que menos faz justiça à abrangência de sua obra é o habitual “humorista”. O termo “sociólogo do riso”, cunhado pelo jornal O Globo em 1973, é uma muito boa tentativa. Mas ainda é pobre para dar conta de um talento multifacetado, que ao longo de 63 anos de carreira arrancou gargalhadas de gerações de brasileiros pobres, remediados e ricos, intelectuais e analfabetos. Quando jovem mudou-se para o Rio de Janeiro quando tinha oito anos. Iniciou no rádio na Rádio Guanabara, onde exercia várias funções: rádio-ator, comentarista de futebol, etc. Participou do programa Papel carbono de Renato Murce.Trabalhou, nos anos cinqüenta, nas rádios "Mayrink Veiga", "Clube de Pernambuco", "Clube do Brasil". Nas chanchadas da década de 50, Chico passou a escrever diálogos e, eventualmente, atuava como ator em filmes da Atlântida Cinematográfica.

Na TV Rio estreou em 1957 o "Noite de Gala". Em 1959, estreou o programa Só tem tantã, lançado por Joaquim Silvério de Castro Barbosa, mais tarde chamado de Chico Anysio Show. Além de escrever e interpretar seus próprios textos no rádio, televisão e cinema, sempre com humor fino e inteligente, Chico se aventurou com relativo destaque pelo jornalismo esportivo, teatro, literatura e pintura, além de ter composto e gravado algumas canções: Hino ao Músico, (Nanci Wanderley, Chico Anysio e Chocolate), foi prefixo do seu programa Chico Anysio Show, nas TV Excelsior, TV Rio e TV Globo e nos espetáculos teatrais, como o do Ginástico Português, no Rio em 1974, acompanhado sempre do violonista brasileiro Manuel da Conceição - O mão de vaca; Rancho da Praça XI, Chico Anysio e João Roberto Kelly, gravado pela cantora Dalva de Oliveira. A música fez grande sucesso no carnaval do IV Centenário do Rio de Janeiro, isto é, fevereiro de 1965; Vários sucessos como Oitenta( Renato Piau na gaita e Arranjos & Teo Lima na bateria com Luisão Maia no Contra Baixo),  com seu parceiro Arnaud Rodrigues, gravados em discos e usados no quadro de Chico City Baiano e os Novos Caetanos. Um grande sucesso foi Rio Antigo de Chico Anísio & Monato Buzac.
Rio Antigo
Quero um bate-papo na esquina
Eu quero o Rio antigo
Com crianças na calçada
Brincando sem perigo
Sem metrô e se frescão
O ontem no amanhã
Eu que pego o bonde 12 de Ipanema
Pra ver o Oscarito e o Grande Otelo no cinema
Domingo no Rian
Me deixa eu querer mais, mais paz

Quero um pregão de garrafeiro
Zizinho no gramado
Eu quero um samba sincopado
Baioba, bagageiro
E o desafinado que o Jobim sacou
Quero o programa de calouros
Com Ary Barroso
O Lamartine me ensinando
Um lá, lá, lá, lá, lá, gostoso
Quero o Café Nice
De onde o samba vem
Quero a Cinelândia estreando "E o Vento Levou"
Um velho samba do Ataulfo
Que ninguém jamais agravou
PRK 30 que valia 100
Como nos velhos tempos

Quero o carnaval com serpentinas
Eu quero a Copa Roca de Brasil e Argentina
Os Anjos do Inferno, 4 Ases e Um Coringa
Eu quero, eu quero porque é bom
É que pego no meu rádio uma novela
Depois eu vou à Lapa, faço um lanche no Capela
Mais tarde eu e ela, nos lados do Hotel Leblon

Quero um som de fossa da Dolores
Uma valsa do Orestes, zum-zum-zum dos Cafajestes
Um bife lá no Lamas
Cidade sem Aterro, como Deus criou
Quero o chá dançante lá no clube
Com Waldir Calmon
Trio de Ouro com a Dalva
Estrela Dalva do Brasil
Quero o Sérgio Porto
E o seu bom humor
Eu quero ver o show do Walter Pinto
Com mulheres mil
O Rio aceso em lampiões
E
violões que quem não viu
Não pode entender
O que é paz e amor


REDE GLOBO- Desde 1968, encontra-se ligado a Rede Globo, onde conseguiu o status de estrela num "cast" que contava com os artistas mais famosos do Brasil; e graças também a relação de mútua admiração e respeito que estabeleceu com o executivo Boni. Após a saída de Boni da Globo nos anos 90, Chico perdeu paulatinamente espaço na programação, situação agravada em 1996 por um acidente em que fraturou a mandíbula.

Em 2005, fez uma participação no Sítio do Pica- pau Amarelo, onde interpretava o Doutor Saraiva e, recentemente, participou da novela Sinhá Moça, na Rede Globo.

É pai dos atores Lug de Paula, do casamento com a atriz Nanci Wanderley, Nizo Neto e Ricardo, da união como Rose Rondelli, André Lucas, que é filho adotivo, Cícero, da união com ex-frenética Regina Chaves e Bruno Mazzeo, do casamento com a atriz Alcione Mazzeo. Também teve mais dois filhos com a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello, Rodrigo e Vitória. É irmão da também atriz Lupe Gigliotti com quem já contracenou em vários trabalhos na TV, do cinesta Zelito Viana e do industrial, compositor e ex produtor de rádio Elano de Paula. Também é tio do ator Marcos Palmeira.

MILITANTE- Chico foi um militante do politicamente incorreto, décadas antes do surgimento desse conceito. Debochou de feios, de gays, de gente burra, de pais de santo, e também de seus colegas de rádio e TV. E passeou com desenvoltura por uma gama de personagens (209, de acordo com seu site) que iam do humor mais sutil ao mais escrachado. Chico Anysio estava afastado da TV Globo, onde só fazia participações esparsas em Zorra Total, e não escondia sua mágoa. Mas o ostracismo recente não lhe roubou um lugar único na história da TV: nenhum outro expoente do humor – nem mesmo Jô Soares e Renato Aragão – teve reinado mais longo e inconteste na emissora de maior audiência no país. Por extensão, nenhum outro humorista exerceu tanta influência sobre os brasileiros quanto Chico Anysio.
PERSONAGENS - Entre o começo dos anos 70 e a década de 90, ele criou personagens e bordões incorporados à memória do Brasil. O deputado Justo Veríssimo (“Quero que pobre se exploda!”), o pai de santo Painho (“Affe! Eu tô morta!), Pantaleão (“É mentira, Terta?”), Bozó (“E-eu trabalho na Globo, tá legal?”) fazem parte dessa galeria, composta também por Bento Carneiro, o vampiro brasileiro, o malandro Azambuja, o boleiro atrapalhado Coalhada, o funcionário público Nazareno e o Baiano, sátira dos músicos saídos da Bahia que fizeram sucesso nos anos 1960 e 1970. Boa parte deles apresentada ao público entre 1973 e 1980, durante o programa, o primeiro de longa duração da carreira televisiva de Chico que teve início em 1957 com o programa Noite de Gala, da TV Rio. Onze anos depois, em 1968, o humorista entraria para o elenco da Globo. Entre 1982 e 1990, ele apresentou o Chico Anysio Show.
ESCOLINHA- Apesar da genialidade consideram que nenhum de seus personagens foi tão marcante e longevo quanto o professor Raymundo, criado por Haroldo Barbosa na rádio Mayrink Veiga em 1950. Em vez de “E o salário, ó...”, que o marcou na TV Globo, o catedrático terminava a atração com o bordão “Vai comendo, Raymundo. Quem mandou tu vim do norte?”. Dali por diante, o personagem ficou sendo dele. Barbosa lhe deu o direito de utilizá-lo onde e como quisesse. Na Globo, o personagem, que participaria de diversos programas, estreou em Balança, Mas Não Cai, dirigido por Lucio Mauro. No início, o mestre submetia seus alunos a sabatinas. A partir de 1974, no Chico City, passou a dar aulas. Mais adiante, em 1991, ganhou uma escola – a Escolinha do Professor Raimundo, sucesso absoluto entre 1991 e 1992. Ali, foram revelados talentos como Tom Cavalcante, e resgatados artistas da velha guarda, como Walter d´Ávila (1911-1996). “Duas falas para cada um e estava resolvido”, dizia Chico.
INJUSTIÇA-   Nessa época, Chico Anysio era campeão incontestável de audiência. Mas já começava a perder prestígio. Quando o assunto era o futuro do humor na TV Globo, ele era considerado representante do velho humor, e não mais conseguia impor seus pontos de vista à geração que surgiu e se afirmou naquele período, como o pessoal da TV Pirata e do Casseta & Planeta. Frustrado na expectativa de ocupar um cargo de supervisor de humor, passou a se expressar de forma amarga e ressentida em relação à emissora. "O diretor que exerce a função que almejei é o Guel Arraes", declarou.
O COMEÇO - A atuação como humorista começou em um show de calouros – onde Chico imitou as vozes de 32 famosos, fazendo piada com cada um, e ficou atrás apenas de Silvio Santos, que mais tarde viria a ser o dono do canal SBT. Ganhou 150.000 réis, que se converteram em uma bicicleta, entregue como presente para o irmão Zelito, sete anos mais novo. O comediante passou a ganhar todos os programas de calouros do Rio, e tornou-se convidado proibido nessas atrações. Ele seguiria então para São Paulo, onde também venceria todos os desafios. Mais uma vez vetado nos programas, chegou a pensar em ser advogado criminalista, quando apareceu um teste para humorista da rádio Guanabara, onde Anysio estrearia como comediante em 1949. “Perdi a minha chance de ser um Tarcísio Meira”, brincou ele.

Chico tinha 15 anos de idade quando se mudou para o Rio de Janeiro, depois que a empresa de ônibus de seu pai falir. Seu sonho era ser jogador de futebol. Uma tarde, quando foi em casa buscar o par de tênis que havia se esquecido de levar para uma partida com amigos, encontrou a irmã Lupe saindo para um teste na rádio Guanabara. Ele deixou o futebol de lado e seguiu com a irmã. Fez dois testes, um para rádio-ator e outro para locutor. Foi aprovado em ambos. Artista completo, escrevia os textos que interpretava. No rádio, além das estações Guanabara e da Mayrink Veiga, o humorista trabalhou nas rádios Clube de Pernambuco e Clube do Brasil. Também escreveu e atuou em cinema – com papéis em chanchadas da Atlântida – e se aventurou pela literatura e pela pintura.
Seus últimos trabalhos, além de Zorra Total, foram em Malhação e Caminho das Índias. Na minissérie Dercy de Verdade, Chico virou personagem, e foi interpretado por seu filho Nizo Netto. 

Chico passou três meses hospitalizado por causa de dores no peito. Na ocasião, ele foi submetido a uma angioplastia para desobstrução de artéria, seguida de uma traqueostomia e uma endoscopia.Chico Anysio estava internado desde o dia 5 de dezembro no hospital Samaritano, no Rio. Ele chegou com infecção urinária. Recebeu alta no dia 21 de dezembro de 2011, mas voltou a ser internado no dia seguinte por causa de uma hemorragia intestinal. O quadro evoluiu para uma pneumonia. A causa de sua morte foi uma parada respiratório e falência múltipla dos órgãos, decorrente do choque séptico causado pela infecção pulmonar


Fonte: Revista Veja/Letras.com.br

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